Tragédia das chuvas atinge casa de executivo de cervejaria de Petrópolis

14/01/2011

Seus dois filhos, que moram ao lado, também perderam tudo.
Sobreviventes contam detalhes do momento da devastação.

Aluizio FreireDo G1 RJ
Depois de participar de uma reunião em São Paulo e verificar a dramática situação da cidade, alagada pelas chuvas, o diretor de qualidade da Cervejaria Petrópolis, Nelson Machado de Souza, 61 anos, comentou com os colegas: “Eu tenho muita pena desse pessoal que dá um duro danado e perde tudo desse jeito”, disse, sem saber que, em algumas horas, já em Itaipava, onde mora, seria mais uma vítima de tragédia semelhante.
Nelson Machado de Souza, 61 anos, teve a casa atingida por um deslizamento de terra em Vale do CuiabáNelson Machado teve a casa atingida por deslizamento de terra em Vale do Cuiabá (Foto: Aluízio Freire/G1)

A casa de Nelson e de seus dois filhos – uma ao lado da outra –, no Vale do Cuiabá, foram invadidas pelas águas que transbordaram do Rio Santo Antônio, que atingiu uma extensão de pelo menos 10 quilômetros levando tudo que estava pela frente.
A tromba d´água invadiu as casas da família Machado por volta das 3h da madrugadaA tromba d´água invadiu as casas da família por
volta das 3h da madrugada (Foto: Aluízio Freire/G1)
A tromba d´água invadiu as casas da família Machado por volta das 3h da madrugada destruindo móveis, televisores, computadores, freezers, geladeiras e arrastando três dos quatro carros que estavam na garagem. Todos estavam desolados, lamentando diante daquele cenário de quartos, salas e cozinhas cobertos de lama, mas, resignados, sabendo que muitos vizinhos não conseguiram sobreviver.
“Em pouco mais de 15 minutos, tudo o que era conforto virou um brejo, lamaçal. A água invadiu tudo, destruindo, arrasando tudo o que tínhamos. Mas são coisas materiais. Podemos reconstruir tudo. Felizmente conseguimos sair a tempo”, afirmou Nelson, feliz ao rever a neta de sete anos no colo do filho.
LágrimasMais adiante, ainda na estrada que liga Itaipava a Teresópolis, Maria de Lourdes Medeiros, 53 anos, nascida e criada naquela região, observava de uma espécie de mirante da tragédia o estrago provocado pelas chuvas na casa situadas à beira do Rio Santo Antônio, na localidade conhecida como Buraco do Sapo.
“Pelo menos quatro pessoas morreram aqui, entre elas a amiga Sonia”, diz , apontando a casa da vítima numa área completamente devastada. O auxiliar de maquinista, Marciano Santos da Costa, 27, chega às lágrimas ao lembrar que ouviu tanta gente gritando por socorro.
“Eram pessoas desesperadas, querendo se salvar, enquanto aquela tromba d'água vinha arrastando tudo, violentamente. Eu aqui de cima, vendo tudo, sem poder fazer nada. Vi a água levando muita gente, até uma criança recém-nascida”, contou, emocionado.
Família consegue se salvarO auxiliar de produção, Wanderson Azevedo da Silva, 28, e a mulher, a camareira Elisângela Aparecida, 33, conseguiram sair de casa a tempo e salvar o filho Cléber Lucas, de um ano e dois meses.
Desabrigados, eles eram algumas das vítimas que receberam quentinhas e outras ajudas de voluntários que atravessaram o lamaçal e percorreram muitos quilômetros para distribuir alimentos e água.
Alguns sobreviventes da tragédia em Petrópolis escaparam por pouco. Foi o caso do cavalariço Bruno Oliveira Amaral, 20, que, no momento do transbordamento do rio, estava com outros três colegas, todos empregados de um haras da região.
“De repente tudo virou um breu. Parecia um dilúvio. O céu negro, muito vento, água e terra descendo com uma força que arrastava tudo. Eu e meu amigos fomos engolidos por uma onda, levamos uma pancada muito forte e caímos no rio. Eu fui me segurando em árvores, galhos, mato na beira do rio, e graças a Deus consegui sobreviver. Ainda não estive com os meus amigos, mas sei que o Miguel, que estava com a gente, não conseguiu sobreviver”, disse, mostrando os ferimentos pelo corpo.